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domingo, 31 de outubro de 2010

CIÊNCIAS EXATAS X CIÊNCIAS HUMANAS: HORA DE DESCONSTRUIR UMA DICOTOMIA

Por Theófilo Rodrigues
Encontra-se em processo de construção o novo Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) que norteará os passos da pós-graduação brasileira na próxima década. Momentos de debate coletivo como esse são de uma riqueza extraordinária, pois nos apresentam o diálogo de diversas concepções de mundo que ao se chocarem acabam por formular novas e mais consistentes concepções.
Um debate que o próximo PNPG precisa amadurecer sem dúvida alguma é aquele que trata perversamente da dicotomia existente entre as ciências. Em algum momento da história do conhecimento as ciências foram divididas arbitrariamente em três vertentes: biológicas, exatas e humanas.
 
Essa especialização do conhecimento criou a falsa idéia, por exemplo, de que o homem "supostamente" pisou na lua graças às ciências exatas, ou que a cura de diversas doenças foi realizada pelas ciências biológicas. Mas o que teria feito as ciências humanas para fora dos muros das universidades?
Convencionou-se, assim, afirmar a falsa dicotomia entre ciências exatas e ciências "inexatas" ou ciências humanas e ciências "desumanas". Diferenciação que não condiz com a realidade.
De fato, o laboratório das ciências humanas é a história. Um laboratório que não é asséptico, como alguns querem, mas que apresenta respostas para a realidade que jamais poderiam ser encontradas dentro de quatro paredes esterilizadas.
O novo PNPG precisa enfrentar essa questão. Vivemos um momento em que o Brasil pela primeira vez na história consegue aliar em sua agenda o desenvolvimento econômico, social e democrático. Mais do que nunca cabe às ciências humanas criar os subsídios necessários para que o casamento dessas três agendas se desenvolva.
Para tanto, precisamos enfrentar o "complexo de vira latas" presente em nossas ciências humanas e exigir a popularização do nosso conhecimento da mesma forma como as ciências biológicas e exatas alcançaram.
Segundo dados da Faperj, por exemplo, o programa de "Apoio às Instituições de Ensino e Pesquisa Sediadas no Estado do Rio de Janeiro" contemplou neste ano 101 projetos, de 22 instituições. Dentre os projetos contemplados no edital, a distribuição por grande área de conhecimento foi: Ciências Biológicas, com 22%; Ciências da Saúde e Ciências Exatas e da Terra, com 20%, cada; Engenharias, 16%; Ciências Agrárias, 9%; Ciências Humanas, 7%; Ciências Sociais Aplicadas, 5% e Linguística, Letras e Artes, com 2%.
Um importante exemplo de que começamos a caminhar nessa direção pode ser visto na realização do simpósio "Política Científica e a Pós-Graduação nas Ciências Sociais" que aconteceu na última reunião da ANPOCS com a presença do professor Luis Manuel Fernandes, presidente da Finep. A reunião deixou clara a importância das ciências humanas atravessarem os muros da Academia e se tornarem parte indissociável do projeto de nacional desenvolvimento brasileiro. Ao PNPG cabe abrir os olhos para essa realidade.


Theófilo Rodrigues é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (PPGCP-UFF).

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